ANO C 10º DOMINGO DO TEMPO COMUM
09-06-2013 00:00
Tema do 10º Domingo do Tempo comum
A dimensão profética percorre a liturgia da Palavra deste domingo, em Elias, o profeta da esperança e da vida, em Paulo, o profeta do Evangelho recebido de Deus, e, particularmente, em Jesus, o grande profeta que visita o seu povo em atitude de total oblação.
A primeira leitura apresenta-nos a figura da mulher de Sarepta, que significa a perda da esperança e o sentimento de derrota e de procura de um culpado, e a figura do profeta Elias, que acredita no Deus da vida, que não abandona o homem ao poder da morte, ressuscitando o filho da viúva.
No Evangelho, temos a revelação de Deus expressa na atitude de piedade e compaixão de Jesus no milagre da ressurreição do filho da viúva. Deus visita o seu povo em Jesus, “um grande profeta”, realizando o reino pela ressurreição, oferecendo a sua vida e dando-lhe pleno sentido.
Na segunda leitura, acolhemos a absoluta gratuidade da conversão de Paulo, para quem o Evangelho é uma força vital e criadora, que produz o que anuncia; a sua força é Deus. É uma força vital, uma dinâmica profética que ele recebeu directamente de Deus.
LEITURA I – 1 Reis 17, 17-24
Naqueles dias,
caiu doente o filho da viúva de Sarepta
e a enfermidade foi tão grave que ele morreu. Então a mãe disse a Elias:
«Que tens tu a ver comigo, homem de Deus? Vieste a minha casa lembrar-me os meus pecados e causar a morte do meu filho?»
Elias respondeu-lhe:
«Dá-me o teu filho».
Tomando-o dos braços da mãe,
levou-o ao quarto de cima, onde dormia, e deitou-o no seu próprio leito.
Depois, invocou o Senhor, dizendo:
«Senhor, meu Deus,
quereis ser também rigoroso para com esta viúva, que me hospeda em sua casa,
a ponto de fazerdes morrer o seu filho?» Elias estendeu-se três vezes sobre o menino e clamou de novo ao Senhor:
«Senhor, meu Deus,
fazei que a alma deste menino volte a entrar nele». O senhor escutou a voz de Elias:
a alma do menino voltou a entrar nele e o menino recuperou a vida.
Elias tomou o menino,
desceu do quarto para dentro da casa e entregou-o à mãe, dizendo:
«Aqui tens o teu filho vivo». Então a mulher exclamou:
«Agora vejo que és um homem de Deus
e que se encontra verdadeiramente nos teus lábios a palavra do Senhor».
COMENTÁRIO
O episódio de hoje, a ressurreição do filho da viúva de Sarepta, é um dos milagres atribuídos a Elias e enquadra-se na polémica contra a religião cananeia do deus Baal. Este era considerado o senhor e o esposo da terra e simbolizava a fertilidade dos campos, dos animais, das famílias. Enfim, era o deus da fecundidade e da vida. Portanto, em Canaan, celebrava-se todos os anos a festa da morte e da ressurreição da natureza na figura de Baal.
O milagre de Elias, como outros a eles atribuídos, significa fundamentalmente que
Yahveh é a única fonte da vida e da fertilidade. A vida vem de Deus. Toda a vida e acção de Elias apontam nesse sentido; o próprio nome Elias significa “Yahveh é o meu Deus”. Portanto, todos os elementos da mensagem devem ser vistos à luz desta centralidade. Todo o relato, que pode denotar referências mágicas na relação entre pecado e doença, baseia-se na oração de Elias, que deixa clara a sua fé num Deus pessoal, senhor e fonte de vida.
A viúva de Sarepta, uma mulher estrangeira, confessa a fé em Elias como “homem de Deus”, “porta-voz de Deus”: “Agora vejo que és um homem de Deus e que se encontra verdadeiramente nos teus lábios a palavra do Senhor”. Naamã confessará uma fé semelhante, depois de ser curado e se ter lavado no Jordão por indicação de Eliseu (cf. 2 Re 5,15). Jesus fará referência à viúva de Sarepta e ao sírio Naamã como representante dos gentios que entram n Igreja, após receber o Evangelho (cf. Lc 4,25-27).
A figura da mulher significa a perda da esperança e o sentimento de derrota e de procurar um culpado. O profeta Elias é a figura que acredita no Deus da vida, que não abandona o homem ao poder da morte.
Como pensamos e agimos hoje, nós que somos cristãos? Não ficamos muitas vezes no paganismo, na falta de esperança, no derrotismo das desgraças que nos atingem? Quando é que, verdadeiramente, agimos como se Deus fosse verdadeiramente o único Deus da vida e da bondade? Quanto caminho a fazer para sermos profetas à maneira de Elias…
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 29 (30)
Refrão 1: Eu Vos louvarei, Senhor, porque me salvastes.
Eu Vos glorifico, Senhor, porque me salvastes
e não deixastes que de mim se regozijassem os inimigos. Tirastes a minha alma da mansão dos mortos,
vivificastes-me para não descer ao túmulo.
Cantai salmos ao Senhor, vós os seus fiéis, e dai graças ao seu nome santo.
A sua ira dura apenas um momento e a sua benevolência a vida inteira. Ao cair da noite vêm as lágrimas
e ao amanhecer volta a alegria.
Ouvi, Senhor, e tende compaixão de mim, Senhor, sede vós o meu auxílio.
Vós convertestes em júbilo o meu pranto:
Senhor meu Deus, eu Vos louvarei eternamente.
LEITURA II – Gal 1, 11-19
Quero que saibais, irmãos:
O Evangelho anunciado por mim não é de inspiração humana,
porque não o recebi ou aprendi de nenhum homem,
mas por uma revelação de Jesus Cristo.
Certamente ouvistes falar do meu proceder outrora no judaísmo e como perseguia terrivelmente a Igreja de Deus
e procurava destruí-la.
Fazia mais progressos no judaísmo
do que muitos dos meus compatriotas da mesma idade,
por ser extremamente zeloso das tradições dos meus pais. Mas quando Aquele que me destinou desde o seio materno e me chamou pela sua graça,
Se dignou revelar em mim o seu Filho
para que eu O anunciasse aos gentios, decididamente não consultei a carne e o sangue, nem subi a Jerusalém
para ir ter com os que foram Apóstolos antes de mim;
mas retirei-me para a Arábia
e depois voltei novamente a Damasco. Três anos mais tarde,
subi a Jerusalém para ir conhecer Pedro e fiquei junto dele quinze dias.
Não vi mais nenhum dos Apóstolos,
a não ser Tiago, irmão do Senhor.
COMENTÁRIO
O texto de hoje enquadra-se na acentuação muito forte da absoluta gratuidade da conversão de Paulo. A essa luz Paulo prega um Evangelho que não é de origem humana. Poder-se-ia pensar que este Evangelho tem um conteúdo da catequese sobre os factos e os ditos de Jesus. Ora, Paulo, quando perseguia ferozmente os cristãos, conhecia bem o conteúdo da sua doutrina. Para Paulo, o Evangelho é uma força vital e criadora, que produz o que anuncia; a sua força é Deus. É uma força vital, uma dinâmica profética que Paulo recebeu directamente de Deus.
Para Paulo, a sua conversão é obra exclusiva de Deus. Temos aqui um equilíbrio dinâmico entre a gratuidade da fé e a adesão à tradição e magistério eclesiástico. Somos convidados a estarmos sempre abertos à revelação de Deus, à autêntica conversão, ao acolhimento do Evangelho vivo de Deus.
ALELUIA– Lc 7,16
Aleluia. Aleluia.
Apareceu no meio de nós um grande profeta: Deus visitou o seu povo.
EVANGELHO – Lc 7,11-17
Naquele tempo,
dirigia-Se Jesus para uma cidade chamada Naim;
iam com Ele os seus discípulos e uma grande multidão. Quando chegou à porta da cidade,
levavam um defunto a sepultar,
filho único de sua mãe, que era viúva. Vinha com ela muita gente da cidade.
Ao vê-la, o Senhor compadeceu-Se dela e disse-lhe:
«Não chores».
Jesus aproximou-Se e tocou no caixão; e os que o transportavam pararam. Disse Jesus:
«Jovem, Eu te ordeno: levanta-te».
O morto sentou-se e começou a falar;
e Jesus entregou-o à sua mãe. Todos se encheram de temor
e davam glória a Deus, dizendo:
«Apareceu no meio de nós um grande profeta; Deus visitou o seu povo».
E a fama deste acontecimento
espalhou-se por toda a Judeia e pelas regiões vizinhas.
COMENTÁRIO
Temos aqui o episódio da ressurreição do filho de uma viúva, em paralelismo com o da primeira leitura. O milagre relatado neste texto, assim como o dos versículos anteriores, respondem à pergunta de João de Baptista a Jesus: “és Tu que hás-de vir ou devemos esperar outro?” Jesus oferece a salvação (cf. Lc 7,1-10) e mostra o verdadeiro triunfo da vida (cf. Lc 7,11-17). Não é o relato em si que é o mais importante, mas o sentido que nos transmite.
Antes de mais, temos aqui uma revelação de Deus. Diante da atitude de piedade e compaixão de Jesus, neste milagre de ressurreição, vemos a exclamação do povo: “Deus visitou o seu povo”. Jesus é “um grande profeta”, não apenas porque transmite a Palavra de Deus e anuncia o reino com palavras, mas sobretudo porque veio realizar o reino pela ressurreição, oferecendo a sua vida.
Em seguida, vemos aqui o sentido da vida. Jesus veio criar, oferecer ao homem a alegria de uma vida aberta com todo o sentido.
Percebemos ainda todo o carácter de sinal presente no milagre. A ressurreição do filho
da viúva testemunha Jesus que há-de vir, cuja vida triunfa plenamente sobre a morte. Significa que para nós, hoje como então, Deus Se encontra onde há o sentido da piedade, do amor vivificante. Significa ainda que, seguindo Jesus, só podemos também suscitar vida, ter piedade dos que sofrem, oferecer a nossa ajuda, ter uma atitude de oblação.
Das duas, uma: ou fazemos da nossa vida um cortejo de morte, dos sem esperança, que acompanham o cadáver, em atitude de choro, de luto, de desespero; ou fazemos do nosso peregrinar um caminho de esperança, de ressurreição, de transformação do choro e da morte em sentido de vida. Podemos escolher, é certo. Mas se somos seguidores de Cristo e nos deixamos visitar por esta grande profeta, não temos alternativa!