Discurso de D. José Policarpo na abertura da 181ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa
1. No início da 181ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, saúdo o Senhor Núncio Apostólico, os Senhores Arcebispos e Bispos, os representantes da CIRP e da CNISP, e os Senhores Agentes da Comunicação Social.
Começamos os nossos trabalhos inspirados por dois acontecimentos que marcam este momento presente da vida da Igreja: a Ressurreição de Cristo e a eleição do novo Bispo de Roma, o Papa Francisco.
A Ressurreição de Cristo, plenitude da Encarnação e da História da Salvação é a grande surpresa de Deus, que traz um sentido e uma exigência nova a toda a vida humana. Não podemos fechar-nos a essa novidade ao analisarmos a vida e missão da Igreja. Quero sublinhar dois aspetos desta exigência pascal: o sentido do nosso presente histórico é a eternidade, o santuário celeste, onde Cristo ressuscitado, com a multidão infindável dos santos que Lhe foram fiéis, apontam à humanidade peregrina a direção e o destino último da sua luta pela vida. Todos temos consciência de que é urgente acentuar, nos cristãos e nas comunidades, esta vocação de peregrinos do santuário celeste. O desejo de participar, com Cristo, da plenitude da vida, em Deus, é frágil na compreensão da fé de muitos dos nossos cristãos.
O segundo aspeto da exigência pascal é, para os cristãos, a coragem de assumir todas as realidades criadas, ao ritmo da plenitude de Cristo. A Páscoa não exclui nenhuma realidade humana, mas exige que a vivamos numa verdade nova que nos é comunicada por Cristo ressuscitado. Essa é também uma exigência para o nosso magistério de Bispos: nada fica de fora do ensinamento da Igreja, mas é nosso dever falar de todas as realidades, iluminando-as com essa vocação de eternidade. Podemos falar de tudo, mas não devemos falar de nada sem iluminar a realidade com a luz pascal, que revela o verdadeiro sentido de todas as coisas.
2. O segundo acontecimento é a recente eleição do Papa Francisco. Foi, no dinamismo do Conclave, uma autêntica surpresa do Espírito Santo e está a surpreender mesmo aqueles que o elegeram. Do seu ainda curto pontificado ressaltam algumas linhas de força que, inevitavelmente, nos interpelam no nosso ministério pastoral:
* O Bispo de Roma, que é Sucessor de Pedro, é um Pastor. O seu poder não se compreende à luz dos poderes deste mundo. As multidões precisam de ser amadas, atraídas pelo amor do Bom Pastor. Nesse amor, carregado de alegria e de ternura – logo no início falou-nos da importância da ternura na nossa relação pastoral – dá um lugar privilegiado aos pobres, aos marginalizados, a todos os que sofrem. Foi muito claro ao afirmar que o modelo de Igreja que o atrai é uma Igreja pobre, ao serviço dos pobres.
* Teve a ousadia de traduzir essa sua visão de Igreja nos símbolos exteriores da grandeza do ministério Petrino: a simplicidade no vestir, a renúncia às joias preciosas, escolher viver num sítio onde a convivência, em Igreja, seja dado fundamental.
* A predileção pelos jovens.
* Uma afirmação clara da atualidade do espírito conciliar, relativizando tensões e correntes, atualizando a esperança de João XXIII numa primavera da Igreja, que há de florir a partir das sementes do Concílio.
3. Este Papa é um sinal de esperança. Não deixar morrer a esperança já é sua mensagem explícita. Isso significa reformas inevitáveis na vida da Igreja? Com certeza. Toda a gente fala na reforma da Cúria; ele ainda não falou. Mas já deu para perceber a linha que seguirá:
* Trata-se de conduzir esse grande serviço do ministério do Papa à sua verdade e à sua funcionalidade. Corrigir algo que também sentimos nas nossas Dioceses que é dar prioridade à vitalidade pastoral, não deixando que a burocracia administrativa tome o primeiro lugar. No caso da Cúria Romana a sua reforma tem de ser feita revalorizando a doutrina do Concílio Vaticano II sobre a colegialidade dos Bispos e a justa autonomia das Igrejas particulares. Esta reforma não pode ser feita a partir de erros e escândalos, concentrados num tão falado relatório. Os erros são para corrigir, as pessoas para converter. A Igreja será sempre o lugar da conversão e do perdão. E ele próprio já nos lembrou dois aspetos centrais: Deus perdoa amando; só não se abre ao perdão quem recusa o amor. E Deus perdoa sempre; nós é que podemos cansar-nos de lhe pedir perdão.
Estejamos abertos às exigências da surpresa. Também nas nossas estruturas diocesanas há muito que mudar, à luz dessa prioridade pastoral da Igreja.
4. O Papa Francisco pediu-me duas vezes que consagrasse o seu novo ministério a Nossa Senhora de Fátima. É mandato que posso cumprir no silêncio da oração. Mas seria belo que toda a Conferência Episcopal se associasse à realização deste pedido. Maria guiar-nos-á em todos os nossos trabalhos e também na forma de dar cumprimento a este desejo do Papa Francisco.
Fátima, 8 de abril de 2013
D. José Policarpo, cardeal-patriarca de Lisboa, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa