Homilia do D. Joaquim Mendes no inicio das comemorações dos 1000 Cursilhos na Diocese de Lisboa

28-10-2013 21:00

CELEBRAÇÃO DA ABERTURA DAS COMEMORAÇÃO DOS MIL CURSOS DE CRISTANDADE DA DIOCESE DE LISBOA

Capelinha das Aparições – Santuário de Fátima

26 de outubro de 2013

Missa: “A Virgem Maria, Imagem e Mãe da Igreja”

Esquema II – Leituras: At 1,12-14; Salmo 86; Jo 2,1-11

 

1.Os Cursistas da Diocese de Lisboa encontram-se aqui na Capelinha das Aparições para abrir as comemorações dos mil Cursos de Cristandade realizados na Diocese.

A razão pela qual fazem aqui a abertura das comemorações é porque foi aqui que tudo começou.

Foi aqui em Fátima que se realizou o primeiro Curso de Cristandade da Diocese de Lisboa e o primeiro de Portugal, em 1960.

O Pe. João Gonçalves, então coadjutor da paróquia e Alcântara, que havia participado num Curso de Cristandade na diocese de Vitória, em Espanha, veio aqui junto de Nossa Senhora pedir a sua intercessão para que os Cursos de Cristandade se pudessem realizar também em Portugal.

Nossa Senhora escutou o seu pedido, e em 28 de Novembro de 1960 teve inicio o primeiro Curso nas dependências do Santuário com a participação de catorze homens, dois sacerdotes – o Pe. João Gonçalves e o Pe. António Ribeiro, que viria a ser Cardeal Patriarca de Lisboa - e dois leigos de Portugal – o Américo Simões Miguel e o Joaquim Pires - que haviam participado no vigésimo segundo Curso de Cristandade da Diocese de Vitória.

No decorrer do Cursilho surgiram dificuldades de tal ordem, que no segundo dia, por volta das duas horas da manhã, o Pe. Vitoriano Arizti, responsável do Movimento dos Cursos de Cristandade da Diocese de Vitória, que acompanhava o Curso, veio aqui com a caixa das «intendências», das preces do grupo que acompanha o Curso com a oração, lembrar a Nossa Senhora a escolha que tinha sido feita para que o primeiro Cursilho se realizasse em Fátima; lembrar-lhe os esforços que fizeram e os que estavam a ser feitos; lembrar-lhe que daquele Cursilho dependeria o futuro do Movimento dos Cursos de Cristandade em Portugal.

Pediu fervorosamente a Nossa Senhora para que se operasse a necessária mudança. E Nossa Senhora atendeu-o.

No decorrer do terceiro dia tudo surgiu a abertura à transformação, à mudança, à conversão, ao encontro com Cristo ressuscitado, à graça e à alegria.

O Pe. Vitoriano Arizti testemunhou que entre todos os Cursilhos em que participou ao longo da sua vida, e foram muitos, nunca presenciou nada de parecido ao que aconteceu com este Cursilho, nem a transformação que se operou nos seus participantes.

É por isso que nós estamos aqui hoje para agradecer a Nossa Senhora a sua solicitude materna e a sua intercessão não só no primeiro Cursilho, mas em todos os outros que se realizaram, e na difusão do Movimento dos Cursos de Cristandade em Portugal.

 

2. Nossa Senhora é Imagem e Mãe da Igreja que peregrina sobre a terra. Assunta ao Céu “cuida com amor materno dos irmãos de seu Filho que entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegar à pátria bem-aventurada” (LG 62).

“Pelo dom e missão da maternidade divina, que a une a seu Filho Redentor, e pelas suas singulares graças e funções, Ela está também intimamente ligada à Igreja. Ela é o tipo e a figura da Igreja na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo” (LG 63).

Contemplámo-la na passagem que escutamos na primeira leitura reunida comos Apóstolos em oração, sustendo-os com a sua presença e a sua intercessão, para que acolhessem, sem receio e com fé, o dom do Espírito Santo, que o seu Filho prometera antes de subir ao Céu.

Contemplámo-la no caminho da Igreja sempre solícita e atenta, intervindo, como em Caná da Galileia, exortando-nos à fé e à confiança no seu Filho, dizendo-nos: “Fazei o que ele vos disser”.

Contemplámo-la suscitando a intervenção do seu Filho, para que Ele continue a manifestar a sua glória, para que seus discípulos acreditem nele, cresçam na fé e confiam nele.

 

3. Queremos agradecer a Deus todo o bem espiritual que o Movimento dos Cursos de Cristandade proporcionou e continua a proporcionar naqueles que neles participaram e continuam a participar.

Agradecer a renovação operada nas suas vidas e, pela sua ação e testemunho, nas Paróquias e nas Dioceses, nomeadamente na Diocese de Lisboa.

Agradecer, porque centenas de homens e mulheres através dos Cursos de Cristandade regressaram mais conscientes à prática da vida cristã, descobriram e abraçaram a sua vocação de cristãos no mundo, se deixaram tocar e transformar pela graça de Cristo.

Agradecer, porque inúmeros casais descobriram a dimensão cristã do matrimónio e da vida familiar e dão testemunho de comunhão e de fidelidade, são verdadeiras «igrejas domésticas» onde se vive e se transmite a fé.

Agradecer, porque muitos ambientes sociais puderam contar com a presença de cristãos comprometidos na sua evangelização e na sua transformação.

 

4. “Obra que nasce em Fátima não morre”, disse o Bispo de Leiria quando da realização do primeiro Cursilho.

De facto os Cursos de Cristandade não morreram, mas multiplicaram-se e difundiram-se por todas as Dioceses.

O fogo que tocou o coração do jovem Eduardo Bonnim, em Espanha, nos anos quarenta propagou-se.

Os Cursos de Cristandade são um dom de Deus para a renovação da vida cristã e para a renovação da Igreja, e para a sua inserção no mundo e evangelização dos ambientes.

Eles são um dom de Deus para o anúncio jubiloso de Cristo ressuscitado, para o encontro pessoal com Ele, para uma experiência de Pentecostes, que transforma o coração e a vida daqueles que neles participam.

 

5. Os Cursos nasceram como uma resposta à necessidade de uma evangelização perante a crescente descristianização da sociedade. “Muitos dos que ainda frequentavam a Igreja tinham caído na rotina, na instalação e na indiferença”.

Os Cursos de Cristandade representaram no tempo “um projeto pastoral ambicioso e com novos contornos apostólicos, expresso numa ação evangelizadora concreta, primeiro em favor dos jovens, depois dos homens e dos adultos e, posteriormente das mulheres”. Com “uma metodologia claramente eclesial, apoiada no testemunho dos leigos cristãos, na vida em grupo, num projeto espiritual, sério e fundamentado dos responsáveis, na colaboração específica do padre, no apoio das comunidades cristãs e nas dos consagrados, no valor da oração e de atos de penitência voluntária, em comunhão com o sacrifício redentor universal de Jesus Cristo” (Nota Pastoral sobre os 50 anos dos Cursos de Cristandade, 11 novembro 2010, n.º 2).

Hoje a Igreja enfrenta os problemas de então de uma forma mais alargada como “o laicismo, a indiferença religiosa, o ateísmo militante, a proliferação das seitas, a multiplicação de agentes e meios de influência que ativam uma nova cultura contrária ao Evangelho” (ib. nº 3).

“Os tempos que vivemos exigem um novo vigor missionário dos cristãos chamados a formar um laicado maduro, identificado com a Igreja, solidário com a complexa transformação do mundo. Há necessidade de verdadeiras testemunhas de Cristo, sobretudo nos meios humanos onde o silêncio da fé é mais amplo e profundo” (Bento XVI, Discurso aos Bispos em Fátima, 13 maio de 2010).

Os Cursos de Cristandade podem ser uma resposta às necessidades de formação deste «laicado maduro», comprometido, atento à realidade, identificado com a Igreja e nela e com ela levem Cristo e o Evangelho ao mundo.

O Papa Francisco na sua Mensagem para o Dia Mundial das Missões, que celebramos no domingo passado, lembrou-nos que “o homem do nosso tempo necessita de uma luz segura que sue ilumine a sua estrada e que só o encontro com Cristo lhe pode dar” (n.º 4).

Como Nossa Senhora, com Ela e unidos a Ela, «Imagem e Mãe da Igreja” procuremos levar Cristo ao mundo, fazendo resplandecer “a vida boa do Evangelho, pelo anúncio e pelo testemunho”, como Igreja e em Igreja.

Que Ela nos abençoe e nos acompanhe com a sua solicitude materna. Amém.

 

† Joaquim Mendes

Bispo Auxiliar de Lisboa