Como nasceu o MCC

Começamos pela história genuína, contada pelo próprio fundador, Eduardo Bonnín Aguiló, no livro editado já depois a sua morte e que foi a sua última preocupação: “O Meu Testamento Espiritual”

A Ideia primogénita e germinal dos Cursilhos nasceu do choque que produziu em mim, ao confrontar na minha pessoa a educação que tinha recebido do ambiente que sempre respirei no seio familiar, com o que se vivia no quartel, quando me incorporei, com 18 anos, no serviço militar que durou 9 anos.  Ali valorizavam-se e viviam-se uns valores completamente diferentes e opostos aos que tinham sido para mim norte e guia desde a minha juventude.

Empreguei toda a minha extensa vida de quartel a tentar saber como eram as gentes e cheguei à conclusão que no fundo, todas as pessoas são iguais. Isto aguçou-me a vontade de aprofundar o nuclear do cristianismo e as minhas quase viscerais ganas de ler sempre, centraram-se nos livros, cujos os autores, naquele tempo estavam na crista da onda do ser cristão: Hugo Rahner, Karl Rahner, el P./ Plus, os esposos Jacques y Raissa Maritain, Karl Roggers, Maslow, Leon Bloy, Van der Meer de Malcheren, Rene Schwob, Gustavo Thibon, Erich Fromm, Iaques Leclerc, etc.

E assim, chegou às minhas mãos um livro intitulado "S. S. Pio XII e a Acção Católica", e na pág. 45, n 59, pode-se ler textualmente, "Deste duplo aspecto do seu povo, é dever do pároco formar uma rápida e ágil mirada, um quadro claro e minuciosamente detalhado, diríamos topograficamente, rua por rua, o mesmo é dizer, por um lado, da população fiel e assinaladamente dos seus membros mais eleitos, dos quais poderiam sair os elementos para promover a Acção Católica; e por outro lado, os grupos que se afastaram da prática da vida cristã. Também estas são ovelhas pertencentes à paróquia, ovelhas tresmalhadas; e também destas, e ainda delas em particular, sois guardiões responsáveis, filhos muito amados; e como bons pastores não deveis poupar trabalho nem esforço para procurá-las, para ganhá-las de novo, nem descansar antes que todas encontrem asilo, vida e alegria, no retorno ao redil de Jesus Cristo" (Discurso aos parocos e quaresmeiros' de Roma, em 6 de Fevereiro de 1940).

Este texto, teve para mim um efeito inusitado e levou-me à resolução de que o mais importante para começar era poder contar, como aconselhava o Papa, com um “estudo detalhado” de cada situação, conclusão que me levou a estudar cada uma das constelações de indivíduos existentes no mundo, no meu mundo e na igreja que eu conhecia e frequentava.

De tudo isto no ano de 1943, nasceu “Estudo do Ambiente”, principio e origem de tudo o que veio depois.

Naquele tempo a rama dos jovens da acção católica estava toda dedicada a preparar a peregrinação a Santiago de Compostela com a intenção de ali reunir 100.000 jovens que vivessem na graça de Deus. Os dirigentes dedicavam as suas férias de Natal e Páscoa a percorrer os Conselhos Diocesanos de Espanha com o fim de entusiasmar os jovens para o grande encontro. E faziam-no dando uns “Cursilhos de Adiantados de Peregrinos” que duravam uma semana. 

Assisti ao segundo desses Cursilhos que se realizou na semana santa de 1943. Gostei do clima de companheirismo que ali se respirava. Ao Cursilho seguinte fui como dirigente e disseram-me que acrescentasse a exposição do rolho “Estudo do Ambiente”.

Destes Cursilhos aprendi muito e sobretudo descobri a solução para o que desde sempre me tinha preocupado, que era como conseguir expor as ideias que queria contagiar aos outros.

Depois de muito rezar e procurar quem rezasse, pensar, planear, estruturar, reunir e seleccionar mais uma vez o material acumulado em fichas, em notas e em livros sublinhados, reunimos uns quantos candidatos e atrevemo-nos a planear um "novo" Cursilho.

Este foi o primeiro Cursilho e, se bem que lhe chamamos “Chefe de Peregrinos”, porque não nos deixaram celebrá-lo com outro nome, não se parecia em nada com os que se haviam dado em Maiorca com este nome.

Isto sucedeu no ano de 1944. Tínhamos que procurar um local apropriado. Para isso dirigimo-nos ao então pároco de Santanyi, D. Pedro Sureda. Ele indicou-nos uma senhora que tinha um chalé em Cala Figuera, e que repetidas vezes o havia posto à disposição da Paróquia. De tal forma, que nos solucionou o assunto do local

Com muita Fé em Deus, as orações de muitos e o sacrifício de uns quantos lançámo-nos à aventura. O resultado foi o prometido por Cristo aos que, crendo nas suas promessas, realizam o que Ele ensinou com ardente Fé, esperando tudo d'Ele, num ambiente de fraterna e sincera caridade.

Quando chegou o D. Hervás a Maiorca, fomos saudá-lo. Eu disse-lhe que em Maiorca tínhamos um procedimento para aproximar a juventude, que era o que com o tempo se veio a chamar o Movimento de Cursilhos de Cristandade.

Entusiasmou-se tanto que nos disse que estava disposto a celebrar por nós uma Missa semanal, ali mesmo na casa episcopal e antes nos faria uma meditação. Combinámos com ele que a melhor hora, para depois podermos ir trabalhar, era às 7 da manhã. Assim acordámos e assim fizemos.

Quando D. Hervás passou da Diocese de Maiorca para a da Cidade Real, entreguei-lhe toda a documentação que eu tinha sobre os Cursilhos; ele, com um grupo de sacerdotes, estudou-a atentamente.

Sem dúvida nenhuma a ele se deve o facto de os Cursilhos serem aceites pela Igreja. Ele escreveu uma pastoral sobre eles intitulada "Los Cursillos de Cristiandad, Instrumento de Renovacion Cristiana", que será sempre a carta Magna dos Cursilhos de Cristandade.

Foi ele que conseguiu que os Cursilhos de Cristandade entrassem pela porta grande da Igreja.    _______________________________________________________________________________________________________

(excerto de “O Meu Testamento Espiritual”– Eduardo Bonnín Aguiló - 2009)